Francisco Piedade

Sou um náufrago do barco do destino: Nadei, nadei, nadei à deriva e aqui vim parar.

Textos

O BAILE DE MÁSCARAS.
Em Abril de 1956 recebi um convite para ir a uma festa. Era um baile de máscara. O dia era 27. Escolhi uma máscara, me arrumei e fui.
Ao chegar fui muito bem recepcionado. O porteiro já esta à minha espera. Me puxou e anunciou minha chegada.

No convite estava escrito que eu podia fazer o que quisesse, porém me recomendava cautela.
Entrei e fiquei fascinado. Era um gigantesco salão magnificamente decorado. O teto era de um azul celeste muito bonito e cheio de figuras luminosas, das quais duas eram radiantemente grandes. Só que não podíamos vê-las ao mesmo tempo. Uma delas aparecia de forma curiosamente diversificada. Às vezes redonda e inteira, outras, oval e ainda faltando um pedaço em algumas das vezes. Mas qualquer que fosse a forma, era embreagantemente linda.
O enorme piso era exageradamente belo. Algumas partes eram pintadas de verde Glauco, outras de um azul esverdeado. Era explêndido!

As longas paredes eram pintadas também de verde, só que oliva. Fiquei fascinado.
Impressionado com o visual maravilhoso, perguntei a alguém que já estava no baile há muito tempo e que me parecia familiarizado com o ambiente, que fora o artista que fizera tão magnífica obra. – Foi DEUS, que por sinal, é o dono de tudo aqui. – Disse ele.
Após deliciar-me com a decoração fui juntar-me aos outros e procurar divertir-me. Todos dançavam a mesma música regida pela orquestra que animava a festa  e que se chamava ILUSÃO. A orquestra era boa, a música  de nome VIDA era muito bonita e marcante.
No início tive dificuldade em aprender a dançar, mas uma ótima dançarina ensinou-me os passos.

Enquanto dançava ia observando os foliões. Notei que alguns trocavam muito de par e, outros, estavam  sempre com o mesmo.
Achei interessante suas máscaras. Muitas eram excêntricas, espalhafatosas. Outras eram discretas. Haviam algumas enormes que cobriam todo o rosto. Outras eram menores deixando uma parte do rosto à mostra.

Tinha um cara com uma máscara de múltipla aparência que rodeava o salão e abusava a todos. Era intolerante e  insolente e não deixava ninguém em paz. Mantinha um horripilante permanente sorriso que mais parecia o do Silvio Santos. Ainda por cima ficava falando bem alto que iria dar uma festa  bem melhor que aquela em sua casa e que todos estariam convidados.

Intrigado quis saber quem era o cara tão arrogante e inconveniente. Falaram baixinho ao meu ouvidos de que se tratava de um tal satanás, mas que também era conhecido por outros nomes e que estava ali de penetra.
Perguntei então porque não o expulsavam do salão. Me responderam que ele era forte e perverso. Apenas o dono do salão era mais forte que ele, mas que ainda não havia chegado. Mas avisou que já está vindo e quando chegasse poria ordem no salão.
Tinha um grupo de foliões que se agrupavam na parte nobre do salão. Usavam máscaras enormes e suntuosas. Muitos ficavam maravilhados quando as olhavam e preferiam ficar perto delas. Procurei saber quem eram os mascarados. Me disseram que a maioria eram políticos e líderes religiosos. Notei que o tal cara multimascarado e  estava sempre em volta deles. Pareciam até amigos. Provavelmente os estava convidando para sua festa e pela animação do grupo, aceitaram o convite. Acho que eram farinha do mesmo saco.
Todavia, outras criaturas sem máscaras eram completamente diferentes do cara abusado. Eram dóceis, serenas, belas...
Encantado procurei me informar sobre as tão angelicais criaturas e porque não usavam máscaras. Fui informado de que elas não tinham nome, por isso não tinham máscaras, mas duas delas atendiam pelo codinome de Dulce e  Teresa de Calcutá.

Bem, o baile continua. Só que agora está muito barulhento e tumultuado. A música parece um tanto dissonante e acelerada. A orquestra agora desafinada, faz com que muita gente erre os passos. Além disso, estão chegando cada vez mais amigos do cara abusado e depredando o salão . O verde das paredes ficaram amarrotados e sem vida por causa do contato com suas imundas mãos.
O azul celeste do teto ficou cinzento e coberto pela fumaça poluente de seus enormes e fedorentos charutos apagando o brilho vindo das figuras luminosas.
O piso está sujo. Seu lindo verde Glauco desapareceu em conseqüência das imundícies que foi vitimado.
Aí pensei:
- Pobre do artista!
Pra mim está ficando tarde e quero ir embora. Até porque o baile não está bom. Só ainda não fui para não fazer desfeita ao anfitrião, mas quando ele chegar lhe direi que não gostei do baile e que se algum dia convidar-me para um outro, espero que não seja de máscaras.

Francisco Piedade
Enviado por Francisco Piedade em 19/11/2009
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