UM CERTO SR. BENJAMIM
Sr. Benjamim era um homem estranho, misterioso e solitário. Aparentava ter uns cinquenta anos. Era de passos calmos, gestos lentos e não falava. Seu corpo esguio e ereto sugeria que fora atleta na juventude, porém seu rosto marcado por algumas rugas e uma visível melancolia, sugeria que sofrera muito na maturidade.
Seus cabelos eram grisalhos e desalinhados, seus olhos eram ambíguos e às vezes assombrosos. Vivia isolado em sua casa. Saia todas as manhãs com uma valise à mão direita e retornava ao anoitecer. Diziam que era proprietário de uma oficina de rádio no centro da cidade, outros afirmavam ser ele funcionário antigo de uma repartição pública e, há quem arriscasse o palpite de que era ladrão.Mas muita gente apostava tratar-se de um agente secreto. Mas tudo que sabíamos dele era seu prenome. Jamais alguém viu o interior de sua sua casa, mesmo usando o mais convincente dos pretextos. Sr. Benjamim era um homem apático e insociável. Não tinha telefone, não recebia correspondências, ou visitas , nem se comunicava com ninguém. nunca sorriu ou pediu algo para alguém, se é que ele sabia sorrir ou pedir. Seu passado era uma absoluta incógnita, bem como os motivos que o levaram àquela vida de ostracismo. Os vizinhos acostumados com sua estranha maneira de ser, já nem ligavam para ele. Saia pela manhã com sua valise, retornava à noitinha e se trancava. Assim vivia o Sr. Benjamim. Um dia algo de curioso aconteceu: Ele não saiu pela manhã como de costume. Nem no dia seguinte também. Intrigados, os vizinhos resolveram bater à sua porta mas não houve resposta. Insistiram inutilmente e tudo que conseguiram foi o silêncio. Preocupados, resolveram chamar a polícia que também não teve êxito. Então as autoridades decidiram arrombar o imóvel e, se depararam com uma incrível cena: O Sr. Benjamim estava debruçado e morto sobre à mesa. Debaixo de sua mão esquerda estava uma premissa e, na direita uma caneta presa entre seu indicador e o polegar. Na carta o Sr. Benjamim deixava seu relato e desabafo: - Sei que estou morrendo, mais para mim isso não tem a menor importância. Na verdade eu já estou morto há muito tempo. O que ainda existia era um corpo mecânico e uma mente cheia de ódio. Sim, ódio e desprezo é o que sinto por todos. Vocês são culpados de minha destruição. Eu era um homem normal e feliz. Vivia com minha mulher e dois filhos. Um dia chegaram três homens em minha casa, estuprou e humilhou minha mulher na presença de meus filhos e logo em seguida os executaram. Eles suplicaram por suas vidas. Pediram para que levassem tudo mas que os deixassem vivos. Gritaram por socorro, mas ninguém fez nada. Onde estavam os vizinhos? A polícia, onde estava? Onde estava esse Deus de que vocês tanto falam? Eu os odeio! Acho-os patéticos! Me juntarei a minha família e me livrarei de vocês para sempre. Assim partiu um certo Sr. Benjamim.
Francisco Piedade
Enviado por Francisco Piedade em 01/12/2009
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