AS DAMAS E O CURINGA
AS DAMAS E O CURINGA
- Querida, há quanto tempo! - Olá, minha amiga! Como esse mundo é pequeno. - Já fazem mais cinco anos desde à última vez que a gente se viu. - Bem mais, minha filha. Foi naquela feira de exposições, lembra? - Lembro, sim. Menina, quanta gente estava lá. Pessoas do mundo inteiro. - Foi mesmo. Mas me diga, onde está morando agora? - Em Roma. - Que bom. Até pensei em ir para lá, mas acho muito longe. - Que nada, fofa! Experimente, você vai gostar. E você, ainda mora na Graça? - Não. Agora estou na Barra. Me mudei para lá porque a violência estava demais. - Nem me fale, minha filha. Coisa horrorosa. A violência está em todos os lugares. - É verdade. Mas me diga, como vai o... como é mesmo o nome dele? - Nem me pergunte. Não quero nem me lembrar dele, quanto mais do nome. - O que aconteceu? Vocês pareciam tão bem. - Ah! Você não sabe é de nada, minha filha. Nem queira saber o que sofrí. - É mesmo? - Sim. Além de me trair, ainda queria viver às minhas custas. - Mas me disseram que a família dele tinha condições. - Pura conversa. Além de tudo era mentiroso. Por isso mandei ele ir embora. - Nossa! esses homens são todos iguais. - Não valem nada mesmo, querida. - Por isso é que não quero ninguém. Antes só, que mal tratada. - Você é que está certa. Tem tido notícias de sua filha? - Sim. Ela está bem, mas nem liga para mim. - Soube que ela teve um filho. - Teve. Só lamento não poder ver meu neto. Dizem que se parece comigo, imagine? - Olha, chegou a nossa vez. Até que enfim, essa fila está cada vez maior. - É mesmo. Semana passada tava tão grande que muita gente não conseguiu. - Que coisa, né? A prefeitura devia ter pontos de distribuição. - Exatamente. Assim matava a fome de muita gente. - Mas eles nem ligam. Não fosse essa alma bondosa, não sei o que seria da gente. - A gente ia era morrer de fome. Deus abençoe ela. Todos os dias dá essa sopa pra gente. - Às vezes essa é a única coisa que como no dia. - Eu também. Quando consigo um real, almoço no filão lá no comércio. - É, as coisa estão cada vez mais difíceis. Ninguém dá mais esmolas. - Até outro dia, minha querida, vai com Deus. - Amém. E você também!
Francisco Piedade
Enviado por Francisco Piedade em 16/04/2011
Alterado em 09/09/2021 |