Francisco Piedade

Sou um náufrago do barco do destino: Nadei, nadei, nadei à deriva e aqui vim parar.

Textos

O drama do dilema
Hoje eu nasci.
Meu pai queria fazer uma festa,
Mas é fim de mês e nada mais resta.
Nossas refeições é conforme o calendário:
Assim é a casa de um bebê operário.

Hoje é meu aniversário.
Gostaria de fazer um discurso,
Mas não fiz nenhum curso,
Não tenho vocabulário.
Por favor, me desculpem,
Eu sou um operário.

Hoje nasceu mais um filho meu.
Queria chamar os colegas e comemorar;
No entanto,  a casa não dá nem pra morar.
Mas tomarei um porre quando receber o décimo terceiro salário,
Vocês não reparem,
É que sou um operário.

Hoje faço vinte anos de casado.
Pretendia pegar a Maria e a gente sair do tédio.
Mas gastei o dinheiro com remédio.
Meu pulmão é meio precário.
Mas ela se conforma,
Pois sabe que sou um operário.

Hoje eu saio de férias.
Adoraria viajar, mas vou ter que fazer biscate.
Batalharei como mascate.
Meus amigos me chamam de otário,
Mas eu sou apenas um operário.

Hoje eu me aposento.
E o meu sonho era ser independente,
Mas estou velho e doente.
Infeliz e deficitário.
O sistema nem dá bola pra mim;
Pois sabe que fui um operário.

Hoje eu morri!
Meu corpo jaz num ataúde simplório;
Os conhecidos jogam dominó em meu antiquado velório;
Pedi misericórdia a Deus e me confessei ao vigário;
Nada a perdoar, pois estou voltando como cheguei: UM OPERÁRIO!
                                                                                                                        
Francisco Piedade
Enviado por Francisco Piedade em 12/03/2020


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