Amor à primeira máscara
Eu Sempre ouvir dizer que nas coisas ruins, há sempre algo de bom que se deve aproveitar. Contudo, eu nunca acreditei nisso. Sinceramente, não vejo nada de bom nas guerras; No câncer e nas pandemias, entre muitas outras mazelas do mundo. Mas provérbio, é provérbio. Para muitos, é como a fé: Inquestionável.
Ali estava eu, acomodado em um dos assentos do lado esquerdo de um transporte público e, me apaixonando. Jamais me apaixonara. Não achava que seria possível . Para mim, o amor era tão improvável, quanto a moral daquele provérbio. A viagem estava sendo horrorosa. O silêncio era total; O tédio, absoluto e, um pânico disfarçado pairava no ambiente. Aquele transporte mais parecia um ônibus conduzindo novos detentos para o presídio. Desde que a pandemia se instalou no mundo, as coisas parecem meio assim. Curiosamente, para mim as coisas não pareciam assim. Não, naquele instante, porque notara uma mulher do lado direito dos assentos, que desmoronara toda a estrutura que julgava possuir. Ela usava uma boina que escondia seus cabelos. Os óculos escuros não deixavam ver seus olhos, uma bolsa se fixava em seu colo, por isso deduzi ser uma mulher. Estava com uma máscara. Ah! Aquela máscara... definitivamente, era a máscara mais linda que já vira em toda a pandemia. Era diferente; Inigualável; Ímpar! Sua forma era única; Seu contorno, sem igual e de uma cor que não configurava em nenhum coral. A máscara era de um glamour tamanho, que permitiu o cupido mascarado me flechar. Foi assim que me apaixonei instantânea e intensamente As regras não nos permitiam aproximação, por isso, não podia me declarar. Mas escrevi meu nome, telefone e e-mail em um pedaço de papel, quebrei o protocolo, fui até ela e entreguei-o-lhe. Ela hesitou desconfiada, mas o recebeu, o guardou e higienizou as mãos após. Retornei ao meu assento e me pus a vislumbrar aquela máscara apaixonante até o final da viagem. Fiquei ainda um tempo ali sentado e absorto depois que que todos se dispersaram. Ficara a imaginar: Será que ela vai ligar? Será que eu viverei esse primeiro amor? Seja lá como for, eu jamais esquecerei àquela máscara. Mesmo depois da pandemia. Sobre aquele provérbio, passei a crer nele.
Francisco Piedade
Enviado por Francisco Piedade em 26/04/2020
Alterado em 13/05/2021 |